Em uma de suas estórias mais conhecidas, Inanna tinha uma irmã gêmea chamada Ereshkigal, que reinava no submundo. Certo dia, Inanna desce ao submundo querendo participar dos ritos funerários presididos por sua irmã, e assim o faz: desce como a verdadeira Deusa que era, ornada em suas joias, colares, brincos de pedras, coroa cintilante, anéis e braceletes, e seu cetro dourado. Ao chegar no portão de entrada do mundo inferior, auto nomina-se e reclama sua passagem aos guardiões, que a permitem entrar, precisando atravessar 7 portas para chegar até Ereshkigal.
A cada porta que Inanna atravessa, é obrigada a se despir de um de seus acessórios: primeiro seus brincos e colares, depois os braceletes e anéis, sua coroa, suas roupas, todas as peças que ornava no início de sua jornada e toda a sua arrogância, até que, após passar pelas 7 portas do inferno, Inanna está completamente nua e curvada diante de sua irmã, a rainha do submundo e das trevas. Despida do seu ego, do seu poder e de suas glórias, Inanna recebe o olhar fulminante de Ereshkigal, que a leva à morte. A Deusa da fertilidade tem então o seu corpo pendurado junto ao trono de sua irmã.
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Ilustração moderna que descreve a descida de Inanna ao submundo, em Myths and legends of Babylonia and Assyria (1916) |
Três dias e três noites se passam e a ausência de Inanna no mundo dos vivos é sentida. Ninsubur, a pedido da Deusa que havia antes lhe comunicado sua descida, pleiteia aos Deuses que intervenham a seu favor. Enki, o Deus da sabedoria e da criação, sensibiliza-se com a situação de Inanna e cria dois demônios a partir da sujeira das unhas de suas mãos direita e esquerda, que descem ao submundo com a missão de interceder em favor da Deusa.
Ao chegarem lá, encontram Ereshkigal contorcida de dor, pois havia recebido o peso de criar a vida, poder que pertencia à sua irmã morta. Cada gemido e súplica que ela entoava eram repetidos em coro pelos demônios, e assim, Ereshkigal sentiu-se contemplada pensando que outros seres haviam se compadecido de sua dor. Tomada pela compaixão que acreditou ter recebido, Ereshkigal decide devolver o cadáver de Inanna, que é prontamente servido, em cima de seu próprio corpo, com o pão e a água da vida pelos dois demônios, e nisto, Inanna retorna à vida.
Assim que sobe ao mundo dos vivos, Inanna é acompanhada pelos dois demônios que lhe salvaram, devendo escolher uma alma para ficar em seu lugar, pois ninguém volta do mundo dos mortos sem deixar um pagamento. Inanna percebe todos os seus súditos em luto por sua causa, exceto seu marido, Dumuzi, que estava sentado tranquilamente e ornado de joias sobre o trono da Deusa, tendo usurpado o seu poder diante da sua ausência. Inanna, portanto, determina que Dumuzi seja levado ao submundo para pagar a sua dívida, e assim foi feito.
Até que, em um dado momento, a irmã de Dumuzi, portanto cunhada de Inanna, após chorar dias a fio a morte de seu irmão, pede à Deusa que o resgate do submundo, o que foi prontamente atendido por Inanna, que já não sentia mais ódio por seu marido. Diante disso, Inanna decreta que ele passaria 6 meses do ano no mundo inferior junto à Ereshkigal e os outros 6 meses no céu com ela, sendo esta uma das versões sumérias para explicar a sazonalidade das estações do ano (a primavera e o verão sendo períodos de abundância, e o outono e inverno, de escassez).
A saga de Inanna nos ensina sobre a dimensão do nosso verdadeiro poder: quem nós somos despidas das nossas glórias e dos nossos adornos, por detrás de toda a nossa arrogância. Além disso, sobre o poder da compaixão, tão importante, que livrou Ereshkigal das dores e trouxe Inanna de volta à vida.
Inanna é a dançarina, Deusa suméria da Terra e do céu, do amor, da fertilidade e também da guerra. Inanna desceu aos infernos e despiu-se daquilo que simbolizava suas glórias e sua arrogância, curvando-se diante da sombra representada por sua irmã, Eresquigal, que por sua vez, revelou sua compaixão pelas dores de Inanna, respeitando a vontade dos Deuses.
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Inanna desce ao submundo. |
A Lua Nova que inaugura a primeira lunação do novo ano astrológico deu-se no último dia 08 de abril, aos 19º de Áries, nesta união com o Sol que também provocou um eclipse solar, que pôde ser visto em algumas regiões dos Estados Unidos, México e Canadá.
Áries, o primeiro dos doze signos e também o responsável por abrir a primavera setentrional, é o domicílio diurno de Marte que constantemente nos impulsiona a agir em favor da vida, da existência e do movimento. Viver é estar constantemente se movimentando e assumindo riscos com prudência. Para isso, descer aos próprios infernos é a premissa para quem não deseja sucumbir a eles.
Desejo a você que me lê uma boa lunação, e ricas descidas às suas próprias profundezas durante essa Lua Nova, que nos acompanhará até o dia 15 de abril.
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