“No que diz respeito ao empenho, ao compromisso, ao esforço, à dedicação, não existe meio termo. Ou você faz uma coisa bem feita ou não faz.”
(Ayrton Senna)


Este ano, completam-se 30 anos da morte de Ayrton Senna, um dos maiores ídolos brasileiros dos últimos anos. Senna faleceu em um acidente automobilístico em 1° de maio de 1994, durante o GP de San Marino, na Itália, uma fatalidade que deixou o mundo do esporte perplexo por sua tão pouca idade em um momento tão glorioso de sua carreira. Lembro-me do momento do acidente, que foi televisionado ao vivo na época, enquanto eu era ainda criança.

Assisti esses dias ao ótimo documentário sobre sua vida, SENNA, disponível no Netflix, o que me traz a delinear a sua carta de nascimento. Senna nasceu na madrugada do dia 21 de março de 1960, tendo portanto um mapa noturno, o que enaltece as condições da Lua, luminar noturno, em sua natividade.

 


Apesar de ser até hoje considerado um dos homens mais rápidos do mundo, em seu mapa, Senna é representado por Saturno, o planeta mais distante da Terra e também o mais lento dentre todos os sete astros. Isto porque ele é o regente do seu Ascendente, que está aos 11° de Aquário, o ar fixo e masculino do zodíaco. Saturno é um astro frio e demasiadamente seco, sendo por isto considerado o grande maléfico na astrologia. É de qualidade melancólica, representa a estrutura, a durabilidade e os grandes desafios que comumente estão também associados às nossas próprias limitações, ou àquelas que nos são impostas na vida.


O Sol recém-chegado em Áries, portanto exaltado e abrindo a primavera astrológica, torna Senna um ariano no dizer comum, mas seu Saturno, além de reger o Ascendente, ocupar a seita diurna e estar domiciliado em Capricórnio, goza de júbilo em sua casa preferida, a Casa XII ou Kakos Daimon (A Casa do Mau Espírito), o que lhe confere mais dignidades do que o astro-rei. Nestas condições, Saturno é o próprio senhor das restrições em sua carta. A Casa XII é a casa dos impedimentos, dos confinamentos e prisões, de tudo aquilo que limita o corpo físico - corpo que é também representado pela Lua, que ocupa os 13° de Capricórnio, em exílio. Nem é preciso dizer que Senna passou boa parte de sua vida, literalmente, restrito e confinado.


 

Posição do corpo de um piloto automobilístico durante cerca de 2 horas de prova, sem contar a duração dos treinos.


Além de naturalmente significar o corpo físico, a Lua, sendo um luminar, assim como o Sol, é uma doadora de vitalidade. No mapa de Senna, além de estar no exílio e em casa maléfica, a Lua aproxima-se de Saturno, seu dispositor fortalecido, por uma conjunção muito próxima - o que compromete a própria manutenção da vida. É ela também a regente da Casa VI (doenças e fraquezas do corpo), e convém lembrar que, em 1984, Senna sofreu uma paralisia facial resultante de uma mastoidite (inflamação no nervo mastoide) - sendo a paralisia é um tema do próprio Saturno, o governante lunar no mapa.

 

A presença nítida de Saturno na vida de Senna se dá pelo peso das suas dignidades dentro da carta, e ele também aparece na própria maneira como o piloto enxergava a vida. A dedicação extrema e comprometida com sua performance esportiva e a busca incessante pela superação dos seus limites eram características conhecidas de Ayrton, assim como o seu medo, que ele não fazia questão de esconder nas entrevistas que concedia. A ambição pode ser entendida como uma qualidade de Saturno, desde que seja entendida como a união dos esforços empreendidos para a materialização de um resultado.

 

Algumas de suas frases mais memóráveis trazem consigo a marca de Saturno:

“Se você quer ser bem sucedido, precisa ter dedicação total, buscar seu último limite e dar o melhor de si mesmo.”

“Canalizo todas as minhas energias para ser o melhor do mundo.” 

“O medo faz parte da vida da gente. Algumas pessoas não sabem como enfrentá-lo. Outras, acho que estou entre elas, aprendem a conviver com ele e o encaram não de forma negativa, mas como um sentimento de auto preservação.”

“Sou um jovem que sacrificou muito de sua própria existência para as corridas. Penso nesta profissão desde que eu era criança; dei tudo de mim e acho que a amo mais que qualquer outro. Por isso, até quando estiver correndo o farei somente para vencer. Só pararei no dia em que perceber ter andado um décimo mais lento do que poderia.”

Fonte: https://www.f1mania.net/ayrton-senna/ayrton-senna-frases/

 

Além de Saturno, Marte, o maléfico menor, também marca uma presença importante em sua natividade, estando muito próximo de seu Ascendente e ocupando os próprios termos, contando, portanto com alguma dignidade, ainda que pouca, e sendo bastante expressivo em sua vida por estar na casa mais importante do mapa. Com Saturno, Marte faz uma recepção mútua, ainda que não se enxerguem por aspecto: Marte está no domicílio de Saturno e é recebido por ele, que está na exaltação de Marte. Maléficos em conversação apoiam-se em seus malefícios, o que não é desejado em uma carta, sobretudo em se tratando do próprio Ascendente (o corpo físico e a saúde do nativo).

 

Marte, um planeta extremamente quente, é um significador natural de ação e velocidade, mas também de acidentes. No mapa de Senna, ele governa as Casas III (deslocamentos físicos e transportes) e X (imagem pública, carreira), entrelaçando os dois assuntos e resultando, pelo contexto de vida que possibilitou e apoiou sua decisão, em um exímio piloto de corrida. Áries, na terceira Casa, é o signo onde está localizado seu lot da fortuna, regido também por Marte que, embora ocupe um signo fixo, mantém-se constante na velocidade na casa angular mais importante de sua carta.

 

Um trecho curioso do documentário ressalta a fase vivida entre 1988-1991 por Senna, momento em que ele “aparentava ter adquirido sabedoria e crescimento interior”. Naquela época, ele vivia o seu primeiro e único retorno de Saturno que, ao mesmo tempo em que lhe traria grandes desafios por sua relevância na natividade, também prometia recompensas visíveis do esforço que ele vinha empenhando até então. Venceu o seu primeiro GP em 1988 pela McLaren e foi campeão do GP brasileiro em 1991, nomeando o seu tricampeonato mundial na Fórmula 1.


Em uma próxima publicação, falarei um pouco sobre o evento astrológico de sua partida, que merece um post à parte.


 Uma vida breve, porém grandiosa.

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